A Compaixão como Soft Skill principal
- Michel Soeltl
- 19 de set. de 2024
- 4 min de leitura
Atualizado: 15 de out. de 2024
A autoconsciência, que é a base e ponto de início de nossa jornada evolutiva para o autodesenvolvimento e o atingimento da alta performance, demanda possuirmos a habilidade interpessoal da compaixão.
Compaixão é uma habilidade (soft skill) que nos torna verdadeiramente interessados pelas pessoas, preocupando-se com seus problemas dentro e fora da empresa e estando acima de tudo disponível para ajudar.
A Compaixão é a base de toda a moralidade (SCHOPENHAUER).
Porém, para ajudar o próximo o primeiro passo é reconhecer que também precisamos de ajuda e assim, ter compaixão pelos nossos próprios problemas, desejar colaborar com a solução de nossas dores e não “terceirizar" a culpa como comumente o fazemos.
1. Os obstáculos para o desenvolvimento da compaixão
Poderíamos elencar dezenas de obstáculos para desenvolvermos nossa habilidade da compaixão: Medo em lidar com emoções fortes; Falta de paciência em escutar o outro; Medo de se tornar um terapeuta no trabalho; Pessoas que necessitam de nossa compaixão não são agradáveis, etc.
Neste artigo vamos elencar os 3 grandes obstáculos que entendemos ser os principais agentes que nos impedem de praticar a compaixão:
1. Medo de Enfrentar nossos próprios problemas: O primeiro grande obstáculo é nosso medo de enfrentar os nossos próprios problemas, aceitando que somos falhos e que temos oportunidades de melhoria em diversos campos. Somente reconhecendo que também precisamos de compaixão é que conseguiremos desenvolvê-la.
A Jornada Interior do auto-conhecimento nos levará a identificar inúmeras situações em que o nosso agir, falar, silêncio ou omissão foram moralmente questionáveis. Para tanto, podemos selecionar uma de diversas ferramentas, formas, métodos e caminhos para o desenvolvimento da nossa auto-consciência.
Eu pessoalmente utilizo dos Exercícios Espirituais Inacianos para desvelar minhas falhas, suas causas e propor planos de ação que me tornarão uma pessoa e profissional melhor.
2. Terceirização da Culpa: Mesmo após começarmos a trabalhar para desenvolver nossas próprias falhas, nossa tendência natural é inicialmente terceirizar a culpa justificando-a por uma ação de terceiros. É comum dizermos: “Ah, sim eu fiz isso, mas também foi porque o Fulano me disse…” não é?
A terceirização da culpa é um grande obstáculo no exercício da compaixão pois não trabalhamos a falha como algo próprio e digno de um ser humano, que deve estar em constante evolução. Ao colocarmos a “culpa em alguém” tiramos a lupa e luz de nossos arcabouços pessoais e nos “livramos" temporariamente do problema, pois tudo foi justificado devido a ação de outra pessoa.
3. Medo e Raiva: No episódio Formação Acadêmica ou Habilidades Específicas do Podcast Descomplica T&D, em conversa com o Vice-Presidente de Recursos Humanos da Volkswagen do Brasil Sr. Douglas Pereira, comentamos que a compaixão é pouco utilizada e pouco falada pelos profissionais, principalmente nos cargos de liderança.
A compaixão mais do que a escuta ativa e querer compreender o outro, nos coloca à disposição para ajudar o outro. Mais do que ter empatia, nos compromete a ajudar pois nos coloca como servidores do próximo, exerce nossa humilde. A humildade falta muito em nosso meio, não só empresarial mas na sociedade em geral.
A falta de compaixão e humildade em nossa sociedade leva ao medo e o medo gera a raiva e a raiva gera atos não civilizados.
O relatório de civilidade divulgado pela pesquisa do SHRM (Society of Human Resources Management) em Março de 2024 apresentou que nos EUA há 2.000 atos de incivilidade por segundo o que equivale a 171 milhões de atos de incivilidade por dia. 66% dos trabalhadores americanos concordam que atos de incivilidade (agressões físicas, verbais ou ambas, intolerância) reduzem a produtividade e 44% já testemunharam ou experimentaram atos como este em seus ambientes de trabalho.
2. O excesso de compaixão também é prejudicial
Todos já ouvimos que as plantas necessitam de água para viver. Quando não regamos de forma periódica uma flor, ela certamente secará e definhará. Porém se regarmos em excesso a planta também morre.
Pouca água mata, mas muita água também mata. Assim é com a compaixão. Sua ausência impacta diretamente nas relações interpessoais e as faz definhar, porém o seu excesso também é prejudicial.
Conforme LOMINGER 2009, o excesso de compaixão pode:
Encobrir conflitos em nome da harmonia;
Fazer com que não sejamos suficientemente duros com as pessoas que faltam com frequência e fazer concessões em excesso;
Aproximar-nos demais das pessoas, perdendo a objetividade e permitindo que tirem vantagem disso;
Nos dar dificuldade para repreender pessoas.
3. REFLEXÃO
Façamos uma exercício agora. Procure investir alguns minutos para responder de maneira verdadeira e com o maior número de detalhes possíveis as seguintes perguntas:
Eu concordo que eu sou falho?
Eu lido bem com minhas falhas?
Quantas vezes eu já parei para refletir sobre uma situação em que fui falho ou injusto com alguém?
Se parei para refletir, eu tomei alguma ação de correção?
Eu tenho estas falhas com frequência? Em qual contexto?
Quais os efeitos de minhas falhas nos outros?
Eu me importo realmente com os outros?
Eu costumo terceirizar a responsabilidade de minhas falhas?
Com qual frequência eu terceirizo e com quem?
Eu tenho medo de ser visto como uma pessoa fraca ao assumir meu erro?
No ambiente em que eu trabalho, as falhas são vistas como oportunidades de aprendizado ou como erros que devem ser punidos?
Eu concordo com os valores do ambiente em que trabalho?
Espero que após ler este artigo e trabalhar na reflexão destas perguntas, você possa começar a desvelar seu eu interior e achar brechas de luz que iluminem sua interioridade, e assim, possa ajudar a começar a desenvolver sua compaixão e a exercer no meio em que vive e trabalha, colaborando com relações humanas MAIS HUMANAS.
Até o próximo artigo.
Abraços digitais.
Comentarios